segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Povo Brasileiro :: A Consciência de Si

A população brasileira dos primeiros tempos vivia numa economia de subsistência. Não podia contar com as benesses geradas pela exportação de nossas riquezas. O regime de trabalho, voltado para o sustento, e não para o comércio, era quase o mesmo da aldeia tribal. A base da agricultura era indígena, enriquecida pela contribuição dos europeus, que trouxeram os animais domésticos e equipamentos, como o monjolo, que vieram para ficar. Até hoje pouca coisa mudou. "A importância dele (do monjolo) é que a gente, por exemplo, planta, depois colhe, depois leva para lá para ceifar farinha pra gente gastar. A gente cria galinha pra gastar... Dá um pouco pra criação, pro gado, pro porco..." – depoimento do Sr. Vicente, um brasileiro.

O agronegócio, que na época não tinha esse nome, mas era evidente nos latifúndios e na monocultura, desestabiliza o quadro. A necessidade desenfreada de produtividade e lucratividade ocasionava a exploração humana e conflitos sociais. Eram homens e mulheres chamados de mamelucos pelos jesuítas espanhóis, por causa do aspecto rústico e da violência com que capturavam e escravizavam os indígenas, de quem descendiam.

Nesse ponto é necessário fazer um adendo, para documentar a evolução do agronegócio no Brasil dos dias atuais: Brasil já é 2º em transgênicos e deve crescer mais – janeiro/2010.

Vale a pena assistir o documentário que retrata a realidade dos extremos do Capitalismo Associado à Biotecnologia. É necessário atentar e avaliar minuciosamente, o impacto social que esses extremos – tratados de forma vulgar - podem causar em nosso país e em toda a humanidade.

Retornando ao nosso tema, temos no final do século XVII a descoberta de ouro pelas bandeiras, nas terras do interior, que mudou os rumos do Brasil Colônia. Em menos de dez anos, chegaram à região das Minas mais de 30 mil pessoas, vindas de todo o país. Eram paulistas, baianos, senhores de engenho falidos e, principalmente, escravos.

Até meados do século XVIII essa gente falava uma língua aprendida com os índios, o "nheengatu". Um jeito de falar tupi com “boca de português”, inventado pelos padres jesuítas.

Um fato histórico e econômico importante de se ressaltar é que o custo do tráfico de escravos, nos 300 anos de escravidão, foi de 160 milhões de libras-ouro. Isso equivale a 50% do lucro obtido com a venda do açúcar e do ouro.

Assista outro episódio do documentário, para ampliar o conhecimento da formação de nosso povo.

O Povo Brasileiro – Parte III :: A Matriz Afro


“E esses negros não podiam falar um com o outro, veja esse desafio como é tremendo. Eles vinham de povos diferentes de tribos e regiões distintas da África. Então, o único modo de um negro falar com o outro era aprender a língua do capataz, que nunca quis ensinar português. Milagrosamente, genialmente esses negros aprenderam a falar português. Quem difundiu o português foi o negro, que se concentrou na área da costa de produção do açúcar e na área do ouro... Mas preste atenção: com os negros escravos vinham as molecas de 12 anos, bonitinhas. Uma moleca daquelas custava o preço de dois ou três escravos de trabalho. E os donos de escravos queriam muito comprar, e os capatazes também. Compravam uma moleca pra sacanagem. Mas essas molecas pariam filhos, e quem era o filho? Era como o filho da índia. Ele não era africano, visivelmente. Ele não era índio. Quem era ele ? Ele também era um "zé ninguém" procurando saber o que era. Ele só encontraria uma identidade no dia em que se definisse o que é o brasileiro ... ” – Darcy Ribeiro.

Até hoje, de certa forma, somos discriminados pelos portugueses por nosso jeito de falar. Somos uma nação de aproximadamente 200 milhões de brasileiros. Atualmente existe tanta gente falando o “português brasileiro”, no mundo, que o português de Portugal e o espanhol, juntos. Isso é um fator de extrema relevância em um mundo globalizado.

"Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros..." – Darcy Ribeiro.

A nossa miscigenação única nos permite estarmos mais uma vez na vanguarda da civilização. Assistimos países se corroendo como nação, em conflitos internos, devido as suas diversidades étnicas. Temos o essencial, nossa mistura é pacífica - ainda injusta, mas coesa.

É fato notório o mal que faz ao Brasil esta polarização amesquinhada, entre índios, brancos e negros. Isso não existe, somos um povo e constituímos uma nação única. Alguns políticos e demais aproveitadores, que se dizem líderes e representantes de suas raças e classes sociais, buscam a conveniente polarização em uma disputa desenfreada pelo mero mando e privilégios propiciado pelo poder. A força e a soberania se iniciam na união, principalmente naquela que propicia igualdade justa de direitos e deveres para todos, sem distinção. São esses os ideais que devemos diligentemente preservar e eleger.

As riquezas desta mistura e suas dificuldades encontram-se detalhadas em mais um episódio do documentário:

O Povo Brasileiro – Parte IV :: Encontros e Desencontros.


Nas próximas postagens iremos abordar O Brasil Crioulo e O Brasil Sertanejo.

Até lá !

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